terça-feira, 9 de outubro de 2012

Lembrança


Por Jéssica Rayanne.


Foto: fotoplatforma.pl


Assim meio como quem não quer nada, ela novamente chega perto, olha bem fundo em meus olhos, como se tentasse adivinhar quem sou, ou qual seria a minha origem. Com uma voz calma e gelada, ela se aproxima. Ao primeiro olhar, roupas meio velhas, rasgadas, pulseira no braço, olhos claros, meio magros, na verdade com jeito de quem procura algo maior. Nesse mundo de solidão.

Primeiro comprimento: _ Alô meu rei. Bom dia princesa.

Ela continua com sua fala. Já como um texto decorado. _ Pelo Brasil e pelo mundo, passando por BH, apresento a você  minha arte, que não é ouro nem prata, mas, um simples artesanato... Podendo ser usado como pulseira e tornozeleira, hoje pelo preço de cinco reais, para ajudar nos custos desta pobre comerciante.

Fiquei esperando que talvez ela se lembrasse do meu rosto. Já ouvi isso tantas vezes. Ela porém não me reconhece, não sabe quem sou, ou que falou comigo inúmeras vezes sobre seu trabalho. Eu lhe disse quantas vezes já comprei, ou já ouvir aquela mesma conversa.

Neste momento ela, meio sem graça, como se a cortesia acabasse naquele instante, me olha fixamente. Achei que ela me engoliria com um palavrão, e iria embora. Porém, a surpresa é evidente em minha face, quando ela educadamente sorri, já sem alguns dentes, e diz:

-- E você, hein sacana?! Fazendo-me repetir tudo de novo!

Virou as costas e se foi, para daqui um dia, ou dois, encontrá-la de novo e se repetir o mesmo episódio.


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